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com ou sem açúcar?

A importância do diálogo sobre sexualidade na adolescência e o resultado no processo de autoconhecimento

A primeira conversa...ou a primeira série?

É muito comum quando se chega na pré-adolescência, quando já existe aquela vaga ideia do que é o sexo, que os pais chamam para a famosa conversa - vamos falar sobre sexo. Enquanto existem algumas famílias que abordam esse papo de uma forma mais natural, e detalhada, outras apenas jogam o básico no colo desse adolescente, ou até mesmo não abordam esse tópico de forma alguma.

De certa forma, não se pode esperar que o papel da educação sexual seja responsabilidade das famílias - tendo em vista que muitos pais nunca tiveram essa educação, ou muitas vezes nem sabem como falar sobre. O problema é: se não em casa, nem na escola, onde encontrar para falar sobre educação sexual?

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Meme Kelly Key, normalmente utilizado nas redes sociais para se referir à alguma frase ou ato engraçado. 

A geração Z (1995 - 2010) nasceu numa bolha extremamente digitalizada, ou seja, a educação estará no mundo digital, na internet. E o problema é que o adolescente muitas vezes acredita que “se tá na internet é verdade”. E daí começam várias crenças em torno do sexo que podem afetar de forma negativa a sexualidade daquele indivíduo. 

Na adolescência todo mundo já foi exposto, de alguma forma, à pornografia, seja através de filmes pornôs, sites de conteúdo explícito, fotografias, pelas redes sociais, ou até mesmo séries e filmes adolescentes etc. E com hormônios aflorados, qualquer conteúdo pode acabar gerando um deslumbre. 

Em uma entrevista para o Huffpost, em 2019, a professora do Departamento de Comunicação da Universidade de Delaware, Dra. Amy Bleakley, disse que existe uma relação consistente entre a exposição ao conteúdo sexual da mídia e as atitudes dos adolescentes em relação ao sexo e o comportamento sexual. 

“Quando os adolescentes realmente não têm experiências próprias para se basear, o que eles veem na mídia se torna o que eles acham que deveria acontecer, como as coisas realmente são”. -  Dra. Amy Bleakley em entrevista ao portal Huffpost.

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Ilustração: Ana Barbosa.

Séries, livros, filmes e diversos outros tipos de conteúdo online podem sim se tornar grandes aliados à educação sexual, mas é preciso entender que nem sempre aquele conteúdo retrata a realidade. Por isso, é interessante que além desses conteúdos se tenha uma educação própria com profissionais qualificados para instruir e ensinar tudo que envolve a sexualidade.

Descobrindo a sexualidade

Para entender como o contexto externo afeta no comportamento sexual do adolescente é preciso entender o que é a sexualidade, o sexo, e tudo que esses conceitos trazem consigo. 

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A terapeuta e educadora sexual Thalita Cesário explica, de forma simplificada, o que é a sexualidade e o que envolve esse conceito. 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define sexualidade como “uma energia que nos motiva para encontrar amor, contato, ternura e intimidade; ela integra-se no modo como sentimos, movemos, tocamos e somos tocados, é ser-se sensual e ao mesmo tempo ser-se sexual."

Já o sexo faz referência a relação sexual em si, ou ao sexo biológico. Ou seja, é um termo que faz parte da sexualidade, assim como diversos outros aspectos como prazer, orientação sexual, gênero etc. 

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Ilustração: Ana Barbosa.

Quando se fala de educação sexual, o objetivo é abordar todos esses conceitos (e muitos outros) de forma que o adolescente entenda a importância da sexualidade e como ela está presente no dia a dia e na vida como um todo.

Introduzindo a educação sexual desde cedo, o adolescente vai se desenvolver e chegar na fase da puberdade já se conhecendo e entendendo os limites seguros para si. Entendendo os limites se torna mais fácil identificar um abuso, uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST), além de conscientizar sobre a gravidez precoce e contracepção. 

Entre as gerações

No caso de Eliete Nicácio, a educação sexual nunca esteve presente em sua vida. Desde criança ela já não vivia com seus pais, pois passavam por um divórcio conturbado, fazendo ela morasse de favor com uma tia. Devido à falta de instrução e de uma rede de apoio, ela acabou iniciando seu primeiro relacionamento aos 13 anos de idade. 

Em 2 anos de namoro, Eliete engravidou, e quando contou para sua tia a verdade foi proibida por um mês de voltar a frequentar a escola. Quando conseguiu retornar ela foi excluída pelos colegas de classe, assim ela passou sua gravidez sendo culpada pela família, pela família do namorado, e excluída pelas amigas, pelos colegas e julgada o tempo todo por outras pessoas. 

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Eliete conta sobre suas experiências pessoais, sua infância e traumas.
Alerta de gatilho: esse áudio fala sobre temas sensíveis e abusos.

Passando por cima de tudo isso, Eliete criou a Stephanie Caroline Acosta, sua primeira filha. As duas, por serem os pilares uma da outra, e até mesmo pela pouca diferença de idade, criaram uma linda relação entre mãe e filha. Como mãe, ela tentou sempre ser transparente com Stephanie sobre sexualidade, sexo, sobre todo seu passado - como a gravidez na adolescência -, a gravidez na adolescência, e sempre tentando instruir e ensinar o que podia para sua filha. 

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Stephanie sobre a mãe.
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Na visão de Eliete.

Em entrevista Eliete ainda contou que, apesar dos desafios que passou, ela se tornou uma mulher independente e mente aberta. Cursou Ciências Sociais e estudar a realidade dos outros ajudou a entender não só o contexto da sociedade atual, mas a si mesma. 

Com 5 filhos, 3 meninas e 2 meninos, Eliete fez tudo dentro de seu alcance para lidar da melhor forma possível com seus traumas e vivências, assim ela conseguiu criar uma família, formada em sua maioria por mulheres, com uma relação saudável e totalmente transparente entre si. 

Filha, mãe e avó num momento em família. GIF: série Jane, a Virgem 

Hoje ela se declara uma mulher livre, e com muito mais entendimento sobre si. Quando questionada sobre relações sexuais e amorosas, disse que escolheu estar sozinha, quando sente vontadeela tem relações sexuais. 

Stephanie teve a sorte de crescer com uma mãe muito presente e muito aberta ao diálogo. Mas essa, infelizmente, não é a realidade de muitas mulheres, assim como foi para Eliete.

De acordo com boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, pelo menos 184 mil casos de violência sexual contra crianças e adolescentes foram registrados entre 2011 e 2017.

Quando o diálogo sobre a sexualidade é aberto para a criança ela sentirá confiança em contar caso seja violentada. Até mesmo na adolescência, será mais fácil para o adolescente se abrir, perguntar, e entender sobre si mesmo e sobre as relações que o cercam, podendo evitar algum trauma ou, pelo menos, amenizar.

Além disso, a educação sexual vai reforçar o processo de autoconhecimento, que leva à uma vida mais saudável, mais prazerosa e promove uma relação consigo mesma muito mais sadia, - assim como uma relação com outros também, seja ela sexual, amorosa, amigável etc. 

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Ana Barbosa Pacheco

Reportagem, revisão e edição dos materiais multimídia.

Luana Bragantini 

Revisão e edição dos materiais multimídia.

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Trabalho de Conclusão de Curso da graduação de Jornalismo | Universidade Anhembi Morumbi | 2022

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